Especialista ressalta um olhar diferenciado para os móveis, já que o consumidor tem passado muito mais tempo em casa
O isolamento social causou uma verdadeira transformação na relação que as pessoas têm com os espaços. É comum que, passando mais tempo em casa, as pessoas tenham desenvolvido um olhar diferente sobre cada ambiente, passando a reparar em detalhes que antes não eram percebidos. “A pandemia veio para mudar muita coisa nas nossas vidas e o mobiliário não foge a essa regra. Há um movimento de valorização da qualidade de vida baseada na relação que temos com nossos lares, e os móveis possuem uma função crucial neste ponto”, acredita Roberto de Moraes Leme, designer e proprietário do estúdio Volanti.
Boa parte do que se vê no design de interiores e no design de mobiliário contemporâneos surgiu em decorrência de outras grandes crises de saúde pública, como, por exemplo, a pandemia de gripe espanhola de 1918. Até então, as pessoas estavam acostumadas a viver em casas escuras, com cômodos sem janelas, sem ventilação, sem entrada de luz natural e usavam móveis sem muita definição de função. Foi exatamente a preocupação com o fato da não circulação de ar facilitar a proliferação de doenças que gerou uma mudança de paradigma na esfera da arquitetura e urbanismo, e deu início à construção das casas com um maior número de janelas como as em que moramos nos dias atuais.
Outro exemplo é a invenção dos guarda-roupas. No século 18, por conta da falta de mobiliários adequados para tal propósito, a maioria das roupas e pertences das pessoas eram guardadas amontoadas em baús. Como a prática propiciava a proliferação de vírus e bactérias, a primordialidade de facilitar a limpeza, não apenas dos cômodos, mas também das roupas, desencadeou a criação dos móveis como conhecemos hoje. O fato é que, com a necessidade da evolução do modo de viver por questões de saúde, a arquitetura e o design precisaram exercer seu papel social e acabaram por se reinventar.
Segundo Leme, a tendência agora é que o consumidor comece realmente a olhar para os móveis que o rodeiam de novas maneiras. “O principal desejo é que esses produtos durem mais, sejam belos e cumpram sua função muito bem. Um bom design é aquele que não precisa gritar por atenção, mas sim exerce o que é proposto”, diz Leme, que é formado em Design de Mobiliário pela Panamericana Escola de Arte e Design e voltou sua carreira para a criação de móveis com foco em alta qualidade e durabilidade, tendo estudado a fundo a marcenaria tradicional japonesa e as nossas madeiras nacionais.
“Ser designer de produto no Brasil é um enorme desafio, ainda mais empreendendo do zero. Entre os obstáculos, podemos mencionar a logística, produção, vendas em nível nacional, tributação, entre outros. Mas é a minha paixão. A relação que criamos entre os produtos, os clientes e nós, designers, é incrível e vale cada gota de suor”, finaliza o designer.
Curso de Design de Mobiliário traz conceitos gerais para projetos criativos e autorais
Os novos conceitos de design de móveis fazem parte da grade do curso de Design de Mobiliário da Panamericana, cujas aulas começam no dia 24 de março. Com 84 horas de duração, as aulas abordam como integrar conhecimentos sobre mercado, semântica, estática, praticidade, funcionalidade, ergonomia, produção e materiais em um projeto criativo e autoral. Para se matricular, é preciso ter idade mínima de 16 anos.